segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CDSs

Suponha o leitor que acaba de descobrir que terá uma vida curta. Tem vários seguros de vida mas precisa do dinheiro agora. Pode então nomear algumas pessoas como beneficiários, com a condição de lhe pagarem. Como a indemnização estará próxima, elas pagarão bem o benefício que lhes oferece. Mas a venda dos seguros de vida fará com que os compradores fiquem atentos à sua saúde: se um médico certificar que está mais doente, os seguros valerão mais, e mais gente se dispõe a comprá-los. A revenda começa então a ser um negócio. Quanto mais doente estiver, maiores os lucros de quem aposta na sua morte rápida. Imagina agora o que lhe pode acontecer?
Se este cenário é ficção, ele existe com os seguros sobre a vida económica de empresas e nações, os CDS (Credit Default Swaps). Compram-se e vendem-se num mercado desregulado e deixaram de cumprir os objectivos para que foram criados. Várias vozes, incluindo as de Obama, Alan Greenspan, Warren Buffet e Myron Scholes, que participou na organização dos swaps, avisaram para o perigo que representam e clamam por regulação. George Soros tem demonstrado que o seu valor, agravado pela especulação, já não reflecte a saúde das empresas e nações, sendo antes factor de destruição que pode gerar novas crises.
Da influência dos CDSs na crise actual, já ninguém se lembra. Estes produtos tóxicos estão de novo a enriquecer os ex-falidos Bancos de Investimento e a destruir a saúde das nações. Contam com a ajuda das agências de rating que, para já, nos diagnosticaram uma "morte lenta".

J.L.Pio Abreu

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Recomeça….

Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Quando quiseres vamos a esse vinho que te espera há muito.

Caro Valupi, neste último semestre não fui de grande valia.
Como muito bem parodias o "Eng." não te paga para tanto, mas onde pára o nosso companheiro "Z" ?

O melhor que me saiu acerca de ti meu caro. (em resposta ao Ibn )

"O que me move é ele (Valupi) não ser exclusivo, que é o que mais se vê por aí. Também estou convencido que o Valupi testa bem a “competência” alheia, as próprias desbarata-as aqui, (no Aspirina) não vem mal ao mundo. Bem pelo contrário. Julgo eu. Será um amor/ódio à esquerda “fandanga” que o coloca ao lado do J. Sócrates"?

O que se seguiu na mesma missiva era de alguma forma uma constatação/desabafo.

"O problema deste “mundo” é o de ninguém querer potenciar os seus dons, sociedade de auto-castrados, desnatados, conformistas e dependentes sem determinação própria. São altruístas no voto, votam com gosto se sabem que os amigos votam no mesmo.
Deixei de ter próximos, aprendi com o Júlio, o César, aquele que ficou um passador por ter gente muito próxima".

Meu Caro, um bom Ano Novo para ti e todos os teus.

A guerra continua, nem te passa pela "cabecinha" o que vai pela FDL.
Com a minha idade já me é permitido adivinhar, só pelo cheiro, o "petisco" que está ao lume em qualquer albergue. Pelo que vejo erras o alvo com os "imbecis e ranhosos".

Quando quiseres vamos a esse vinho que te espera há muito.

O último recurso


Por Pedro Lomba

No sábado passado Vasco Pulido Valente escreveu na sua coluna que o nosso semipresidencialismo não funciona. Isto porque o conflito Sócrates-Presidente, que tanto agita a imprensa, está para durar. E Pulido Valente sugeria que, enquanto não gerar um vencedor e derrotado - ou seja, a sua própria implosão -, a guerrilha irá persistir. Com a agravante de que Sócrates tem as presidenciais à porta para enfrentar Cavaco; e o Presidente tem a governação diária e a exígua credibilidade do primeiro-ministro para aparecer como oposição e a única autoridade confiável do sistema.
Ora, eu não consigo dizer com certeza se este "sistema híbrido" como é, de facto, o semipresidencialismo, funciona ou não. Mas sei que uma coisa é perguntarmos se o semipresidencialismo tem funcionado para o que se esperava; outra é se, face ao que temos aprendido nestes 33 anos, poderá continuar a funcionar no futuro. Não há nenhuma razão para não respondermos sim à primeira pergunta e não à segunda. Tudo depende.
Depende da lógica particular que está na origem do nosso semipresidencialismo; e depende, claro, de percebermos se aquela lógica se mantém. Vasco Pulido Valente lembrava uma causa histórica decisiva. O semipresidencialismo nasceu entre nós em parte para domesticar os militares. Em 1976 o governo dependia politicamente do Presidente da República e do Conselho da Revolução, que era um órgão de soberania autónomo e com um poder de veto. O facto de o primeiro Presidente ser um militar eleito, Eanes, assegurava que as Forças Armadas, institucionalizadas no Conselho da Revolução, responderiam perante um órgão político, contribuindo para as enfileirar dentro do regime.
Como é sabido, este cenário mudou com as revisões constitucionais. Os partidos aplicaram-se em reaver o seu papel e o Presidente acabou mais diminuído. Mas convém dizer que o semipresidencialismo não acabou aí, pela simples razão de que não nasceu só por isso.
Desde o início que a legitimidade do Presidente da República advém da sua eleição por sufrágio directo e universal. Quando os constituintes de 1976 instituíram a eleição directa, tinham na memória a eleição fracassada do general Humberto Delgado em 1959. Recordavam-se que Delgado ameaçara Salazar com a frase "Obviamente demito-o" e sabiam como é que a ditadura reagiu à afronta: suprimindo a eleição directa do Presidente.
O Presidente que esses constituintes ajudaram a delinear e que ainda hoje permanece visava por isso um objectivo específico: dividir e arbitrar o exercício do poder e, pormenor essencial, limitar o poder de um governo que possui competências políticas e legislativas incomparáveis na Europa.
Em 1960, o Governo de Salazar tinha poder. Em 2009, em inúmeros sentidos o Governo de Sócrates detém ainda mais poder. Não prende, mas tem muitas formas de silenciar. Não mata, mas se quiser persegue. O que tem para distribuir arbitrariamente pelos seus "amigos políticos" são recursos que o paroquial Salazar desconhecia. Essa é a contradição mais impressionante deste regime. Como é que nos libertámos dum Estado obscuro e governamentalizado e fomos gerando outro, em certos aspectos, mais obscuro e governamentalizado?
Enquanto o governo for tão poderoso como é, enquanto o primeiro-ministro exercer um controlo único e dado a toda a espécie de abusos sobre o Estado e a sociedade, enquanto os partidos gerarem políticos sem credenciais, prescindir do estatuto do Presidente da República e assim do semipresidencialismo pode implicar um suicídio. Dificilmente podemos prescindir da última instância de recurso que o regime nos concede. Quem pretender a sua reforma tem de repensar o regime e a concentração de poder no governo, a causa mais próxima do "sistema híbrido" que temos. Jurista

Público - O último recurso

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