(Um pequeno excerto analítico da obra de Jonh Rawls “Uma Teoria de Justiça”)
Um parágrafo é dedicado em exclusivo ao princípio aristotélico (§65) que é resumido da seguinte forma: em igualdade de circunstâncias, os seres humanos retiram prazer do exercício das suas capacidades à medida que as capacidades são realizadas, ou à medida que aumenta a sua complexidade.
O princípio aristotélico é um princípio relativo à motivação, à medida que testemunhamos o exercício pelos outros das suas capacidades devidamente treinadas, essa demonstração dá-nos prazer e provoca o desejo de que deveríamos nós próprios ser capazes de fazer o mesmo. Queremos imitar aquelas pessoas que conseguem exercer as capacidades que descobrimos estarem latentes na nossa natureza.
Podemos afirmar que a dimensão da nossa aprendizagem e a importância que damos à educação das nossas capacidades inatas dependem destas capacidades e da dificuldade do esforço que é necessário para as desenvolver.
Um projecto racional, limitado como sempre pelos princípios do justo, permite a realização do indivíduo, tanto quanto as circunstâncias o consentem, bem como, tanto quanto for possível, o exercício das suas capacidades.
Rawls fecha esta parte concluindo: dado que estes princípios se ligam ao bem primário do respeito próprio, eles acabam por ter uma posição central na psicologia moral que subjaz à teoria da justiça como equidade.
Por fim propõe uma teoria ampla que nos permite distinguir diferentes tipos de valor moral, bem como a sua respectiva ausência, considera que assim podemos classificar o homem justo, o homem mau e o homem perverso.
Há quem, o homem injusto é um deles, procure a obtenção de um poder excessivo, isto é, de uma autoridade sobre os outros que vai além daquilo que é permitido pelos princípios da justiça e que pode ser exercida de forma arbitrária.
O homem mau deseja obter poder arbitrário porque tem prazer com o sentido da importância que o seu exercício lhe dá, e pretende obter prestígio social.
O homem perverso pelo seu lado, aspira à obtenção de um domínio injusto, precisamente porque tal domínio viola aquilo com que os sujeitos independentes concordariam numa posição original de igualdade. O que move o homem perverso é o amor da injustiça: tem prazer com a impotência e a humilhação daqueles que lhe estão submetidos e fica satisfeito quando é por eles reconhecido como o autor voluntário da sua degradação.
Quando a teoria da justiça é reunida à teoria do bem, forma aquilo a que Rawls nomeia a teoria ampla.
Estão assim reunidas as mais importantes armas da teoria rawlsseliana que permitem desbravar toda a riqueza da análise com que o autor aborda todos os cantos, mesmo os mais escuros, das características humanas da sua obra repleta de um conhecimento profundo do homem em si, da sua natureza e do seu meio envolvente, e o que a este compete decidir para obter uma sociedade mais justa, tendencialmente igualitária, e onde não sejam reprimidas as características naturais, o conhecimento e o desejo de perfeição. Uma sociedade Liberal e não utópica.
Foi um grato prazer intelectual a leitura da obra deste autor que, em princípio, estaria longe de procurar na perspectiva de encontrar as soluções para um mundo em completa indefinição ideológica e de moral relativizada ao extremo.
Encontrei numa obra de referência. A que voltarei com redobrado prazer.
Lisboa, 11 de Outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
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