O Partido Socialista é hoje constituído por, pelos menos, quatro diferentes grupos de militantes. Em primeiro lugar a grande massa de inscritos, que são essencialmente os fãs do PS, como serão de qualquer clube de futebol ou associação de cultura e recreio, isto é, não são verdadeiramente activos, até porque já não há militância no partido, tudo é feito por profissionais e raramente são chamados a fazer seja o que for, ou a dar a sua opinião. Seguidamente, há aqueles que tendo cultura e passado político credíveis, estão no partido pelas posições, empregos e influência que o partido lhes dá, apoiando o chefe por necessidade e não por convicção. Segue-se o pequeno grupo que manda no partido, a “click” dirigente, constituída por militantes com bastante habilidade política, profundo conhecimento do partido e uma grande ambição pelo poder e pelas mordomias que o poder confere, podendo ou não ter enriquecido durante a permanência nos lugares por onde passaram, ou depois, aproveitando as relações criadas; usualmente, estão ligados a empresas ou a grupos económicos, públicos ou privados. Finalmente, há os “aparatchiques”, grupo constituído por ex-funcionários, alguns autarcas e muitos jovens saídos da JS, sem grandes escrúpulos e sem preparação política ou humana digna de relevo e que existem para servir o chefe, sem grande critério ou princípios, mas com uma devoção cega, certos que estão de receber a devida compensação. Existe ainda uma outra categoria de socialistas, os críticos da direcção do partido, usualmente com passado e cultura política, mas desiludidos ao ponto de já não serem verdadeiramente militantes. De alguma forma muitos já estão fora do Partido, ainda que alguns tentem em certos momentos fazer ouvir a sua voz, quase sempre na defesa de princípios, ou com base em preocupações devidas à precária situação económica e social do País.
As trapalhadas que têm envolvido José Sócrates desde o início da sua ascensão política – Cova da Beira, curso de engenharia, aquisição de casa, Freeport, Face Oculta, comunicação social e caso Figo – foram tornadas possíveis devido ao sentimento de impunidade do chefe, facilitado pela fidelidade de alguns destes grupos e da passividade de outros. Parece impossível que isso aconteça e logo num partido com a tradição democrática do PS, mas de facto os socialistas puseram a detenção do poder e as mordomias que o poder lhes dá, acima de todas as outras considerações, éticas, nacionais e cívicas. Na grande generalidade optaram por olhar para o lado, por negar a realidade visível, as coincidências sistemáticas e a dimensão dos problemas criados ao País, arranjando as desculpas mais esfarrapadas para justificar o que se tem passado, ou simplesmente para não ver. Mesmo quando confrontados com os resultados desastrosos da política económico do Governo, encontram na crise internacional o álibi necessário para justificar o desastre, sobrevalorizando cegamente o que foi bem feito, sem qualquer esforço de organização, sistematização ou rigor.
Ultimamente, muitos destes socialistas optaram, sem grande pudor ou sentido de responsabilidade politica, por inventar uma central de perseguição a José Sócrates, que não nomeiam, mas que serve bem o objectivo de não terem de enfrentar, ou de explicar aos portugueses, os diálogos gravados nas escutas, ou os documentos publicados. Aparentemente, nunca lhes passou pela cabeça que, apesar do esforço de desinformação levado a cabo, a realidade completa possa vir ao de cima, enterrando o partido no descrédito e na vergonha. Quando a única forma de defender o PS, o seu passado e o seu futuro, seria a desautorização e condenação daqueles que envolveram o partido em práticas ilegais, ou ética e politicamente inaceitáveis. Em vez disso, os militantes com maior visibilidade pública, entraram pela via da negação irracional e do “manobrismo” político mais repugnante, como ainda agora se viu na reunião da Comissão Nacional. Sem cuidar de explicar aos militantes o que realmente se passou, encurralaram-se na negação das responsabilidades políticas e usaram a pretensa defesa das instituições judiciais, que antes condenavam, sem cuidar de saber se isso pode acelerar o percurso da justiça portuguesa para o descrédito e para a irrelevância.
22-02-2010
Henrique Neto
segunda-feira, 1 de março de 2010
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